Em
carta encaminhada ao presidente Michel Temer nesta terça-feira (5), os nove
governadores do Nordeste apresentaram sugestões para a reestruturação do setor
elétrico brasileiro e se opõem à venda da Eletrobras e da Companhia
Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). A Carta dos Governadores do Nordeste é
uma reação à intenção anunciada pelo governo federal no mês passado de iniciar
o processo de desestatização da Eletrobras, holding que controla as maiores
geradoras de energia do país, como Chesf, Furnas e Eletronorte, e metade de
Itaipu, atualmente a maior hidrelétrica do mundo. As mudanças preveem ainda a
revisão do Marco Legal do setor e a descotização do mercado energético.
O
governador Rui Costa confirmou sua assinatura durante a viagem de retorno da China,
onde cumpriu agenda nos últimos dias e assinou acordos importantes para a
execução da Ponte Salvador-Itaparica, Fiol e Porto Sul. Na carta, os
governadores afirmam que a venda da Eletrobras para a iniciativa privada
representará um aumento significativo das tarifas de energia para o consumidor
brasileiro. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que o
reajuste na conta de luz pode variar de 7% a 17%. “É fato que membros da equipe
do governo têm se esmerado em negar aumento de custo da energia para o
consumidor final”, aponta a Carta.
Na
avaliação dos governadores nordestinos, a transferência para investidores
privados do controle operacional das usinas do Sistema Eletrobras,
particularmente daquelas geridas pela Chesf, condicionará por décadas todo
projeto ou ação que demande água do Rio São Francisco. Em especial, a carta
alerta para o risco de colocar na iniciativa privada a gestão de usinas que
utilizam água, comprometendo previamente a vazão dos rios necessária à geração
da energia contratada, limitando o uso múltiplo das águas, como irrigação de
lavouras e a transposição do Rio São Francisco.
“Com
isso, põe em risco a segurança hídrica de numerosa população e ainda
desestimula que levemos adiante estudos e planos para outros usos da água, no
que podemos estar comprometendo o futuro de gerações. Quanto ao Rio São
Francisco e a Chesf, lembramos que a empresa tem suas usinas dispostas em
cascata num dos mais importantes rios brasileiros que, se for levado em conta o
fato de banhar grande parte do semiárido nordestino, chega-se, sem dúvida à
conclusão de que é ele o mais importante rio deste país”, destaca o documento.
Os
governadores apresentam, ainda, na carta, propostas e sugestões para viabilizar
uma solução para o setor que não esteja centrada unicamente em uma discussão
político-financeira, voltada apenas para a captação de recursos destinados ao
fluxo de caixa do governo federal, sem considerar a complexidade e a
importância do sistema elétrico para o País. “Entendemos que um setor que
exerce tamanho impacto sobre todas as cadeias produtivas e camadas sociais não
deve, em hipótese alguma, financiar ou cobrir déficits no caixa do Governo”,
diz o documento.
Os
governadores do Nordeste propõe a criação de um grupo de trabalho destinado a
elaborar “um modelo de governança transparente e blindado às ingerências
políticas e partidárias”. Além do governador da Bahia, a carta é assinada pelos
governadores Renan Calheiros Filho (Alagoas), Paulo Câmara (Pernambuco) Camilo
Santana (Ceará), Flávio Dino (Maranhão), Ricardo Coutinho (Paraíba), Wellington
Araújo (Piauí), Robinson Faria (Rio Grande do Norte) e Jackson Barreto
(Sergipe).
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