Lugar
de mulher é onde ela quiser, e várias representantes baianas do gênero feminino
são bons exemplos disso. Maria do Amparo Xavier, 62 anos, é um deles. Filha de
um pequeno povoado de Jaguaripe, no Recôncavo baiano, ficou conhecida por ser a
primeira mestre de obras da Bahia e, atualmente, dá palestras e luta pela inserção
das mulheres no mercado de trabalho, mais especificamente, na Construção
Civil.
Muito pobre, passou a infância dentro de uma casa de palha e, conta que, “assim
que viu um lar construído com vários tijolinhos”, teve a certeza de que
passaria a vida entre vigas e concretos, erguendo edificações e fazendo
história. “Nunca foi fácil para a mulher estar inserida na Construção Civil,
pois se trata de um trabalho tipicamente masculino. Mas, tratando-se desse
segmento, posso falar que conheço tudo, seja na construção leve ou pesada”.
A
carreira começou aos 14 anos, varrendo um canteiro um canteiro de obras. Com
muita luta, suor e perseverança Maria foi subindo de posição - servente,
carpinteira, pedreira e armadora - até chegar a comandar importantes obras,
como empregada de grandes construtoras. No início dos anos 90, liderou inúmeros
homens nas intervenções que requalificaram a Praça Dois de Julho, conhecida
pelos soteropolitanos como ‘Praça do Campo Grande’. “Eu fui a encarregada de
toda a reforma da praça, uma obra maravilhosa, que na época gerou uma
repercussão enorme. Eu era única mulher na obra. Cada cantinho dessa praça tem
um pouquinho de mim”, diz orgulhosa.
Outra importante obra chefiada por Maria, que contou com uma equipe de mais de
dois mil homens, foi a urbanização, em 1998, do Dique do Tororó, um dos
equipamentos públicos mais significativos de Salvador. “Foi uma obra bem
complicada, por conta do pouco espaço e das pistas laterais, e bastante
fiscalizada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado [Conder].
Fizemos toda a requalificação, a limpeza total das águas, construímos toda a
área de lazer e hoje dá orgulho de ver esse espaço, assim, lindo e freqüentado
assiduamente por turistas e soteropolitanos”.
Com o que aprendeu e, posteriormente, conquistou, Maria foi capaz de trazer a
mãe e os irmãos - o pai já havia falecido - para a capital baiana. A
profissional assegura que não foi fácil decidir trabalhar apenas com homens,
mas soube quebrar esse tabu usando do perfeccionismo e prezando pela manutenção
de um clima agradável no canteiro de obras. “Não basta ser chefe. Tem que saber
ser líder. Ao desempenhar esse papel, automaticamente, se aprende a trabalhar,
respeitando o outro e sendo respeitada”.
A
luta continua
Maria está prestes a lançar um segundo livro - o primeiro foi a biografia
intitulada ‘Simplesmente Maria’. Atualmente, é secretária de Política para as
Mulheres do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem
Industrial do Estado da Bahia (Sintepav) e Força Sindical. De acordo com a
mestre de obras, “o desafio é inserir cada vez mais mulheres no segmento, e
temos importantes vitórias para comemorar. Nas obras da Arena Fonte Nova, por
exemplo, tivemos 450 mulheres atuando. Na construção do metrô, foram mais de
800 mulheres”.
Maria finaliza brincando - “meu grande desafio é descobrir uma
substituta. Estou envelhecendo”. Mas, logo em seguida, o riso dá lugar ao papo
sério. “É extremamente necessário que as mulheres ocupem os espaços de poder em
todos os lugares, seja na política partidária, sindical. É preciso lembrar que
nós, mulheres, somos competentes e trabalhamos muito bem”.
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